quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Tríade quase perfeita

Santos 10 x 0 Comercial. E só se fala nisso. Marta, Santos e Copagaz. Tríade perfeita. Perfeita? Definitivamente, isso foi o que menos marcou para nós, no jogo entre as equipes femininas do Santos e Comercial, na última quarta-feira (16), no Morenão.
As arquibancadas do estádio receberam milhares de pessoas. E, para o conhecimento do leitor, fique bem claro que nem todos os presentes foram apenas ver o talento da jogadora número um do mundo.
Metade do primeiro tempo. Torcedores acompanham o jogo, esperando um lance brilhante da protagonista. Nas arquibancadas, pernas inquietas, mãos procuram a pipoca. Bocas umedecidas pelos líquidos ingeridos. Olhares fixos no gramado. Crianças de colo apontam seus pequenos dedos para os vendedores ambulantes. Alguns torcedores mais “animados” ficam em pé e, em frases curtas e emocionadas, tentam incentivar o time no campo, como se houvesse a possibilidade de serem escutados pelas jogadoras. E, a espera por mais um lance fenomenal de Marta. Quase uma obrigação de perfeição. De repente, de um dos locais de acesso às arquibancadas surge uma turma de jovens. São em aproximadamente quinze. Dois carregam nas mãos tambores e numa [des]organização começam a batucar e cantarolar uma espécie de grito de guerra: “Colorado, minha vida é você”. Nessa hora, conseguem chamar os olhares para eles. Logo, perdem a visibilidade, afinal não se pode perder um lance da Marta. Talvez, por isso, quem sabe, após uns três minutos, resolvem partir para outro local do estádio.
Intervalo do primeiro tempo. No centro do gramado, as cheeleaders [torcedoras organizadas] tentam empolgar a audience [platéia, em inglês], sorry!, quer dizer, desculpa!, mas é que a influência da cultura americana foi tão grande nessa hora no estádio do Morenão, que afetou nosso texto. Ao som de hip-hop e após uma homenagem “muito” comovente ao Michael Jackson, as meninas chacoalharam seus “pompons” e deram altas piruetas que incendiaram o coração de alguns torcedores, na sua maioria, homens. Alguns, nessa hora, perderam a vergonha e dançaram no ritmo “frenético” imposto pelo grupo de dança/animação.
Início do segundo tempo. Corredor de acesso central da arquibancada descoberta. Lá estão novamente os jovens torcedores. Mas, o clima era diferente. Eles estavam indignados com o tratamento que receberam ao cantar e torcer para o Comercial, no Morenão. “O pessoal pediu para gente sentar. Tivemos que sair da arquibancada”. Um outro torcedor indaga: “A torcida já é pouca, e ainda não deixam a gente torcer”. Os torcedores afirmaram que, quando é contra time grande, o pessoal reclama da torcida; mas, quando é contra time do estado, ninguém fala nada para eles. Wálter Reis, 43, afirma que: “em nenhum momento, cantamos ou vaiamos o time adversário”. Ele alega que não houve uma demarcação de espaço entre as torcidas e, por isso, não havia justificativa para os expulsarem da arquibancada. Para ele, isso só ocorreu porque o jogo foi contra um grande time do Brasil. “O que vale é a mídia”.

Adriana Queiroz
Léo Brandão